Preconceitos são coisas terríveis. Julgamentos são terríveis. Preconceito contra os outros é julgamento. Preconceito contra si mesmo é baixa auto-estima. Pelo menos assim penso eu, que já os tive todos, sem exceção. Hoje procuro conhecer s pessoas e as situações a fundo. Não gosto só de brancos, ou só de pretos, só de mulher ou só de homem, só de caretas ou somente de loucos. Não me limito jamais, vivo, pois para existir é preciso viver. Sou uma apaixonada inconsertável, amo o ser humano irrestritamente, independente de que qualidade, cor ou quantidade de carne ele vista. Um dia já generalizei os defeitos de um baiano em todos, de um argentino em todos, mas depois de alguns anos engolindo as almas para tentar fazer parte delas, descobri nas pessoas a individualidade. Talvez se eu fosse cega nunca tivesse tido tais preconceitos, ou talvez tivesse contra todos que enxergassem. Mas a questão é que eu prefiro enxergar um ser humano e gostar dele ou não, quere-lo ou não, por quem ele é e me reservar o direito de escolher o que quero dele. Não digo que não namoraria uma negra, um argentino ou um cowboy, porém, não é porque uma negra se apaixonou por mim e eu a rejeitei que isso me torna preconceituosa, apenas não rolou atração para namoro, mas poderíamos ser as melhores amigas. As pessoas teimam em confundir o NÃO com preconceito e ficam chatas quando pensam dessa maneira. Creio que exista um embate entre ausência de preconceito de um com complexo de inferioridade do outro.
Aconteceu um caso em um ônibus em Saõ Paulo que me fez rir demais. Um senhor negro estava sentado com um lugar vago ao seu lado. Uma senhora loira estava em pé, se apoiando na barra de ferro do teto, com uma expressão visivelmente dolorida . O homem convidou-a a se sentar e ela respondeu que ficava menos incomodada em pé. Ele perguntou se o motivo era ele ser negro. Ela sorriu e respondeu que apenas estava sofrendo de hemorróidas. Todos sorrimos da situação e da coragem da senhora que, para tirar o desconforto do negro, acabou por revelar uma situação constrangedora para ela própria.
Se assim, não ocorresse, todos a veríamos como preconceituosa. Ela certamente pensou que sua dor no c... seria menor do que a dor do negro ao se sentir rejeitado. Se ele fosse branco, ela não precisaria se expor, diria apenas não ao convite e fim. Ou seja ela não é preconceituosa, mas ele se mostrou bastante complexado. O silêncio as vezes não é o melhor remédio.
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