sábado, 17 de setembro de 2011

Mulata sem dente (uma história de vida, ouvida, na praça da invasão)

Vim pra Trancoso e vim contente
Uma mulata sem dente, me fez arrepará
larga nas anca, firme nas tamanca
Olhar atrevido, eu fiz logo casar.

Consertei logo as banguela
Engordei minha magrela
Comprei tudo novo pra ela
Que formusura que ficou

Saia na rua , era assobio
Entrava no buteco dava arripio
Dos cabocrô a lhe zoiá

Um dia de cana na testa
Arretado no meio da festa
Um cabra chamo e ela foi dançar

Numa conversa profunda
Língua na oreia, duas mão na bunda
Meu chicote cumeu os dois

A mulé que era sensível
Disse que eu abaxei o nível
Ói o que aconteceu depois

Andei chorando pelos cantos
Orando pra alguns santos
Queimando vela pra ela voltar

Mas nem a macumba de mil reais
Fez a danada olhar pra trás
Xinguei o diabo de cão miúdo
Besta inútil, velho chifrudo
Cadê meu bem, pelo seu vintém?

Mulata safada, mulé assanhada
So quer pagodar no samba de lá
Tem gringo a vontade , avião pras Itália,
Devolve a sandália, não me faz ir tomar

Eu que fiz esses dentes, nessa boca banguela
Comprei mini blusa e bandana amarela
Creme pro sol e ensinei futebol

E agora essa mardita, nem no meu time acredita
Padogeia pelo mengo
Reboleia e faz um dengo
No boteco do adão

Eu como as unhas de nervoso
Enquanto ela samba gostoso
E agora é conhecida
Rainha da praça da invasão.



terça-feira, 6 de setembro de 2011

Solidão a dois.

Muitas vezes ficamos mal, nos magoando por conta de um casamento ou namoro falidos e seguimos segurando o relacionamento com uma esperança sem propósito de que um dia vai melhorar. O tempo só piora as coisas e transforma a vida dos solitários-a-dois em um peso. Por uma falsa consideração aos bons tempos, vamos empurrando com a barriga uma situação apática, sem cor, sem tesão, sem carinho, cheia de cobranças e mágoas, pois os dois querem que melhore o que já não existe de ambas as partes. Percebe-se o fim quando o tempo dos dois não combina mais e quando um decide se esforçar pra melhorar em momentos diferentes do outro. No fim o que se vê são duas pessoas tentando sobreviver em um mar de infelicidade que lhes rouba o ar, a cor, a alegria, a vida, os suspiros.
Apegam-se a casamento, família, filhos dando corda pra vida os enforcar.
O que ninguém conta é que uma paixão nesse oceano cinzento pode ser a salvação das duas vidas, por que a paixão, quando chega, ilumina tudo e expulsa com sua luz tudo o que há de podre, de sentimento estagnado, de escuridão, de silêncio. A paixão nos traz à tona, nos faz respirar, ter mais amor próprio, ter FORÇA pra mudar a velha vida, Quando um dos dois se apaixona, cria forças pra romper esse cordão umbilical, dar luz a própria vida e permitir a luz à vida do outro.
O sofrimento da separação é quase um parto, pois se acostuma a viver junto, mas libera duas pessoas pra seguirem suas vidas; pra trilharem novos caminho e quiçá encontrar a verdadeira felicidade, até mesmo, talvez, na solidão consentida.